sexta-feira, setembro 18, 2009

Maia

Aqui estou eu, dando talhadas saborosas nesta torta de chocolate e um sentimento de culpa que alivio com goladas de coca. Espero meu amigo Maia sair de sua sessão de análise de cinqüenta reais por uma hora de quarenta e cinco minutos. Ele tenta, aos quarenta anos e cinco meses, contar à mãe que é gay. Prometeu-me aos prantos, de quatro na areia, depois de catorze garrafinhas de Stella Artois e cinco doses de tequila que ele bebeu sozinho, prometeu-me que aos quarenta contaria para mãe. Não podia mais esconder este segredo - nada secreto da porta para fora da casa de Dona Socorro -, ele sofre, ama a mãe mais que tudo nesta vida, ama tanto, tanto, que ainda mora com ela. Todos os dias antes de ir ao consultório a leva à Associação das Viúvas dos Tenentes do Exército para os cursos de costura, bolo confeitado e tai chi chuan, participa das festas, não só com a presença, mas com toda produção do evento, da decoração à escolha da banda. Alguém pode até pensar que estou inventando, mas é a mais pura verdade! Ai de nós se faltarmos ao Encontro Anual de Inverno das Viúvas dos Tenentes do Exército.

Pois bem, passou a madrugada da véspera do aniversário de quarenta – o dia ele passa com Dona Socorro, vamos todos para lá e ela faz docinhos como se tivéssemos oito anos, é uma delícia, ai...- passou a véspera vestido de indiana, numa suíte master temática de um certo motel chiquérrimo aqui da cidade, na parede: Feliz Aniversário Maya... A festa foi fuderosa, pois o outro dia era A Grande Verdade.

Começou a fazer esta terapia de merda com quarenta anos e dois dias e segue dois mil e nove a dentro, mesmo me confessando que o doutor falou a mesma coisa que eu: mãe é mãe, ela vai acabar conformada, nada muito trágico, no final elas sempre torcem pra que a gente seja mesmo é feliz, rico, que não nos droguemos e escovemos os dentes antes de dormir. Mas ele continua querendo ouvir de um profissional porque eu sou “emocionalmente envolvida”.

Não sei se como um brownie ou um quiche de búfala com manjericão. Ai, quando Maia chegar vai ser aquele momento. Preciso estar relaxada e concentrada para meu amigo, vou de quiche.

...


Oi amiga.
Oi xuxu.
Já lanchou?
Já.
Vou tomar só um cappuccino, não passo sem o meu café. Tenho um bafón: Encerrei minha terapia. Sou uma nova pessoa, muito mais seguro de mim, decidido, corajoso.
Vai falar pra tua mãe? É hoje?
Já falei.
Já?!? E aí?
Ela já sabia. Desde que eu tinha nove anos.