sexta-feira, junho 23, 2006

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor e por ele quase morrer?

Então, meu primeiro desentendimento ontem foi com a seleção escalada. Saí do trampo com uma chamada da rede globo informando a lista do Parreira e ouvi já no portão “ Robinho no lugar do Ronaldo Fofuxo ( sim, fofucho porque eu sou mulher e isso aqui é um ponto de vista feminino e eu não vou mudar minha visão para qualquer homem que queira discutir, ora, venhamos e convenhamos, a Seleção Brasileira de Futebol é um patrimônio público da nação, então, eu como representante autêntica da raça brasileira, porei os nomes que quiser aos jogadores, e por tabela ao juiz - com licença à sua mãe morta ou viva esteja – assim, como também e portanto o senhor representante da raça macha esteja à vontade de também rebatizá-los, abaixo a ditadura! Voltando: ) quando atravessei a rua era Cicinho no lugar do Cafu e cheguei em casa atrasada: tomar banho-comer alguma coisa-pegar as coisas-correr pra casa do Adolfo-não vai dar tempo. Consegui uma carona e fiquei sem almoçar. Quando a porta se abriu uma perfeição da natureza e da mente humana me fez ter a visão de um bom prato de nhoque ao som do Hino Nacional, ou como diria “ao som do ouvirundum” e meu eterno querido Zico cantando junto, para mim, o maior jogador de futebol do Brasil e eu nem sou flamenguista. Barriga cheia, muito bem posicionada, vi que alguma coisa ali estava ‘errada’: cadê Roberto Carlos? – eu sempre falo Roberto Carlos com o sotaque daquela mulher da propaganda da Rider, assim, meio espanhol – Oxe, O Robinho não ia jogar no lugar do Fofucho, o que ele está fazendo ali? Então eu vi o jogador do Japão Yakissoba passar a bola para Nissin Miojo e a mardita passar por cima do meu príncipe Dida que caiu de joelhos quando viu a bichinha e gol do Japão. Uma tristeza, eu nem mexi, deu vontade de chorar, aquele aperto deu no coração. Fudeu. Pensei.
Quando Ronaldo ‘Felômeno’ recebeu de Cicinho, cabeceou na pequena área e a bolota branquinha deu um pulo de susto e entrou, ah! Só de lembrar me faz sorrir. Foi o sobrenatural de Almeida. A comemoração do golaço de Juninho Pernambucano lá do meio da rua, um ‘tivuco’ como diria Joaquim, foi exaltado aos gritos de Meu maracatu é da coroa imperial! Meu maracatu é da coroa imperial! Senti vontade de chorar novamente e olha que eu nem estou de TPM.
A reencarnação de Orfeu Negro de Vinícius de Morais infiltrou-se eu não sei se driblando ou sambando, sambando ou driblando que é quase tudo a mesma coisa, chutou cruzado e a bola sobrevoou rente a grama, gol de Gilberto.
Sai o Ronaldo Dentuço, entra Ricardinho.
E eu mal acabei de falar Ricardinho e Fofuxo se transforma ao mesmo tempo, imediatamente, já, agora no maior goleador da história dos Mundiais e artilheiro da seleção na Alemanha, pode?
Ainda vi o Rogério Ceni jogar e olha que eu também não sou São Paulina.
Até agora a seleção me surpreendeu. O primeiro jogo que eu pensava que ia ser 4X1 foi 1X0 e eu perdi o bolão. O segundo que eu não quis apostar – ainda estava ressentida – foi 2X0. Ontem eu vesti amarelo porque amarelo é a cor da riqueza, da abundância.
Fiquei com pena de Zico, o bichinho.
Já Fofuxo, lavou a burra, heim? mas eu ainda estou desconfiada.
Mulher é assim.

terça-feira, junho 20, 2006




Retrato de uma princesa desconhecida


Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino


Sophia de Mello Breyner

terça-feira, junho 06, 2006

Da série: O que me dá prazer

'Graças a ela enfrentei pela primeira vez meu ser natural (...)
Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo o sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra minha negligência; que pareço generoso para cobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco.'



Do delicioso Memória de minhas putas tristes.
Do apaixonante Gabriel García Marques.

Por favor em algum momento de suas vidas dêem-se ao imensurável prazer de mergulhar no minimalismo lúdico de Gabriel lendo qualquer uma de suas obras.