quarta-feira, janeiro 18, 2006

O REMÉDIO É SER CORNO

- João, quando tu ligou, eu nem que acreditei.
- Presta atenção Inácio, tu vai lá no Doutor Diogo falar que eu to aqui, tu ta me entendendo? Diz pra ele vir aqui me tirar que ele ta me devendo favor e agora eu to necessitando.
- Mas, João, diaxo! O que foi que aconteceu, homi, me conta! Qué que tu ta fazendo aqui detrás dessas grades? Foi briga? Eu num te deixei hoje cedo em casa, de frente pra porta?
- Arre égua Inácio! Vai logo chamar Doutor Diogo que eu quero sair daqui.
Inácio afastou-se da grade, daquele palavreado coxixado, deu dois passos para trás, ajeitou a camisa e cruzou os braços na altura do peito.
- Ta, ta bom. Foi Nelinha.
- Nelinha? Tu pegou ela com outro na cama? Matou ele? Matou ele João? Diga homi, seja macho! Diga que tu matou ele por que se fosse comigo, se fosse comigo João, ah! Se fosse comigo... se eu pegasse Dora Maria com outro homem, se eu pegasse outro homem beijando aquela boquinha, aquele pescocinho, aquele joelhinho...eu não quero nem pensar!
- Pois não pense, não pense sua anta! Que vai começar a feder...foi Nelinha quem chamou a polícia.
- Como? Nelinha chamou a polícia pra tu? O que foi? Se assustou porque tu fez barulho e acordou ela e a bichinha pensou que fosse ladrão? Aí não teve nem como explicar pros pepas que não era tu o ladrão?
- Inácio...faz favor? Cala a porra da boca! S’eu contar tu nem acredita.
- Oxe, então conte! Vai me deixar assim? No nervoso?
- Cheguei em casa mais tu, não foi?
- Foi.
- Que horas eram aquelas?
- Eu não sei precisar muito, porque tu sabe que esse relógio aqui é só pose, né? Quebrou já faz uns meses e tu sabe que eu ando meio duro.Pra ver as horas e ninguém perceber eu jogo a mão assim pra cima como se tivesse dificuldade de ver e pego assim no relógio aproximo, vejo o céu e digo...quase nunca erro, digaí se não é! Bem, pelo andar da carruagem do sol eram quase oito; nera não?
- Pois...Nelinha já estava de pé com o telefone na mão, a casa num frangalho só, as coisas espalhadas pela sala, ela toda despenteada, acabava de dizer no telefone ‘meu marido ta me batendo seu policial’ e eu fui logo perguntando o que danado é isso, mulher, tá ficando louca, quer apanhar de verdade? E ela gritou de acolá: isso é hora de você chegar em casa, seu sem – vergonha! Você não tem família, não? Desde ontem na hora do almoço que tu foi tomar uma cervejinha pra ‘espairecer’ antes de comer!... Eu devia era meter-lhe um par de chifres na testa que minha mãe sempre disse que o melhor remédio pro homem lembrar que tem mulher é ser corno! E foi uma gritadeira só, as crianças acordaram num miadeiro infernal, quando a polícia chegou o circo estava armado, eu com um bafo de cana miserável, não tive nem como contestar minha inocente defesa. Ou seja, a mulher armou-me uma emboscada!
- Minha Nossa Senhora do Rosário, João! Ta vendo do que uma mulher é capaz? Imagem do cão! Tão aqui na terra tudo pra atormentar nossas vidas, enlouquecem nossas mentes, você dá casa, dá de comer, dá de vestir, dá carinho e não pode nem sair um pouquinho com os amigos ali na esquina pra tomar uma?



180 – Disque denúncia contra agressão na mulher.

9 comentários:

Márcio disse...

Vailha...mulher é bicho brabo mesmo, hein?

renatamar disse...

Ótimooo! hahaha

Anônimo disse...

Saravá, meu pai. Ainda bem que a Dona Muléfême é mais chegada numa canjibrina do que eu e, por isso, saímos sempre juntos a beber Pitu.

Anônimo disse...

Puta que pariu, mulher! Agora vc vai incentivar isso é?

renatamar disse...

Adorei a visita ao blog! Apareça sempre.

beijos

b.ponto disse...

ei..
adorei o regionalismo... uma beleza de dar de sorrir de canto inteiro.

valeu pela comparacao, embora nao conheca o ascenso ferreira.

as letras podem enganar... mas o sentimento e sempre unico.

vamos que vamos.

apareca mais vezes.

bj
b.

Anônimo disse...

Ô, maledetta, vai nos deixar órfãos, mesmo, é?

Anônimo disse...

Já fiz minha parte. Bora.

Anônimo disse...

Fiz minha parte DE NOVO. Como se diz lá na Bahia: Rumbora, minha porra!